Mas essa peludinha era muito pequena, magrinha, olhinhos meio inflamados. Sozinha ali, tristinha, em meio a gatos adultos e adolescentes. Óbvio também que eu sentei no meio fio, peguei a bebê no colo, analisei, fiz carinho pra depois continuar meu caminho. Acontece que depois de dar algumas voltas pela UECE, voltei até o local onde achei a professora Adriana, que era na sala em frente ao local onde a gatinha estava. Lá vou eu, mesmo processo, sentar no meio fio, colo. Fiz a entrega e saí para almoçar. Todo este tempo pensando: pobre bebê, entregue a própria sorte, desnutrida, doentinha; certamente morrerá aqui. O que fazer? O que fazer? O que fazer?
Bem, sai do almoço e passei pelo local de novo. Ela estava atirada. Assustei-me achando que estava morrendo. Sentei-me novamente no meio fio, toquei nela e ela acordou (sim, era uma soneca atirada), amassou uns pãezinhos no "ar", levantou e veio pro meu colo: carinho tia, me dá carinho. Alguém aqui acha que eu sei dizer não? O problema é que alguns gatos eu tenho a impressão de ouvi-los dizer: me leva pra casa, me cuida, não é a toa que eu estava no seu caminho, me ajuda, me ame. Sim, eu ouço tudo isso no olhar de alguns gatinhos. E alguém acha que eu consigo dizer não? Essa bebê me olhava de uma forma tão linda e suplicante, quase um "gato de botas". E eu sentada no meio fio, com ela no colo, pensando "o que fazer? o que fazer?" Eu ainda tinha que ir ao terminal da Parangaba buscar doações pro Bazar com a Branca e dali, pretendia seguir para o trabalho. Estava só com minha ecobag, que por sinal, tinha arrebentado a alça no caminho de ida e ela já estava lotada com as "tralhas" da academia pós trabalho.
Por sorte, a professora Adriana saiu do prédio e fui, sem saber o que fazer, pedir alguma ajuda, mostrar aquela bebê. Depois de meu dilema, de levo ou não levo, de já tenho tantos, ela está doentinha, lá em casa tem rino e os dilemas de sempre, meu coração me disse que não sossegaria deixando aquela bebê ali, a própria sorte. Professora Adriana improvisou uma caixinha de transporte (foto 1; aliás, uma ótima e barata ideia para resgatar filhotinhos de gato) e viemos, eu e a gatinha, embora. Fim das ruas para ela. Eu ia levá-la para o trabalho, até por isso essa caixinha improvisada; serviria de "disfarce". No caminho, comecei a pensar e cantarolar (mentalmente, porque não tenho coragem de cantarolar alto músicas em inglês com meu inglês tupiniquim) a música Nikita do Elton John. Pronto, ta aí o nome da lindinha: Nikita!
Decidi passar em casa antes de vir ao trabalho e deixa-la lá, no banheiro, por onde residirá por uns dias até ficar forte e eu ter certeza que não tem panleucopenia, por exemplo. No banheiro, Nikita comeu desesperada; ração com whiskas sachê; ganhou uma caminha, caixinha de areia. E agora, torçamos para que tenha uma nova vida, linda, longa e feliz, como todo gatinho merece.
E fica a dica: O coração mandou; aja. Não há nada que mate mais do que a indiferença. Aqui em Fortaleza há muitos animais abandonados, principalmente gatinhos. Sua pena não adianta de nada. Alimente, dê água, leve a um veterinário, pague uma castração, acolha, dê LT, adote, procure um novo dono, mas aja. Indiferença mata; mata mais do que maus tratos. Uma senhora perguntou a professora Adriana o que ela (a gatinha) tinha (de doença) e esta respondeu: abandono. Sim, essa é a maior doença. Somente com nossas ações, podemos combater esse mal. Não seja indiferente a vida.
O que será que tem aí dentro? Documentos importantes?
Surpresa! Eis Nikita, a nova resgatinha.
Nikita comendo desesperadamente em seu novo lar temporário, o banheiro da casa dos gatinhos da tia Letícia.
Nikita, by Elton John: www.youtube.com/watch?v=-9HHjazDFWQ